É impossível ser feliz sozinho”. O verso da música Wave, de Tom Jobim, entrou para a história da música brasileira como um dos mais belos do cancioneiro popular. Fundamental mesmo é o amor, poetizou o autor.
Histórias como a de Helena Pereira do Prado e Joaquim Francisco de Lima são como as letras do compositor carioca. Juntas, a idade dos dois soma mais de um século e meio, mas isso não é motivo para se restringir às cadeiras de balanço, agulhas de tricô ou partidas de baralho. Foi-se o tempo que envelhecer era sinônimo de melancolia e solidão. No fim de semana que passou, Helena, com 81 anos e Joaquim, próximo de completar os 86, trocaram alianças.
A cerimônia foi realizada na tarde de sábado (1º), no salão do Núcleo Assistencial Eclético Maria da Cruz (Naemc), conhecido como Casa da Esperança, no bairro Limoeiro. Em nome da pluralidade, a união foi firmada sem vínculos religiosos. Mais de duzentas pessoas compareceram. “Foi lindo demais. E todo mundo cantava 'eu fico com a pureza da resposta das crianças; é a vida, é bonita e é bonita'”, lembra Helena, que arriscou cantar a canção de Gonzaguinha, bem afinada, inclusive.
Tímido, Joaquim diz não saber expressar tudo o que sentiu naquela tarde. “Eu não sei colocar em palavras, mas foi muito bom, muito agradável”, sorri.
Ao contrário de Joaquim, Helena não é acanhada. Gosta de falar. Tanto entusiasmo que foi ela quem tomou partido e cantou o colega do Projeto Faculdade Melhor Idade, da Unipac Vale do Aço, no ano passado. A data está viva na memória dos dois: 13 de julho de 2012. À época, os amigos, percebendo o interesse, atiçavam. Cutucaram até que Helena decidiu colocar Joaquim contra a parede e o pedir em namoro. Ele não ousou recusar, claro. “Afinal, não podíamos perder tempo”, brinca a mulher.
O relacionamento deu tão certo que sequer esperaram completar um ano de namoro para decidirem pelo casamento. No começo deste ano, a ideia surgiu. “Nessa idade a gente tem que decidir rápido. Temos que aproveitar o resto da vida”, condiciona Helena, mexendo com Joaquim que, por sua vez, concorda.
Com os corações já experientes, Helena, já com sete filhos, 20 netos e 10 bisnetos, e Joaquim, com duas filhas, cinco netos e um bisneto, tiveram a aprovação dos familiares, que não foram contra a felicidade do casal. Com filhos que trabalham na Casa da Esperança, além da proximidade com a entidade e amigos feitos por lá, o lugar para o casório não poderia ser outro.
Com a felicidade nos rostos de cada convidado, amigo e parente, o casamento dos dois simpáticos noivos foi realizado na entidade, às 15h de sábado. A lua de mel foi na cobertura do Hotel San Diego, no Horto. Agora, moram juntos no bairro Cidade Nobre. Com satisfação, Helena conta que ontem foi o primeiro almoço que fez para o marido. E dá dicas para quem, na melhor idade – como enfatiza – queira também se casar. “Digo para todos que se brotar o amor no coração, não esconda, vá em frente. Além do quê, é para frente que se anda”, ri.
Desmitificação
Amiga do casal e parte do grupo de teatro que reúne idosos em um projeto na Unipac, Maria das Dores Correa, ou Dorinha - como todos a chamam – se diz encantada com o casamento de Helena e Joaquim. “É maravilhoso. Procurar a felicidade não tem idade. Aliás, ser feliz é o mais importante. Sempre”, comenta.
Já o professor das aulas de artes cênicas da instituição, Gilson Magno, vai além. “O caso deles desmitifica a velhice, quebra tabus de relacionamento, sexualidade. Eles acreditam na vida, no valor e na beleza de estarem juntos”, ensina.
Repórter : Wesley Rodrigues (Estagiário) para o Jornal Diário do Aço
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